Pesquisa mapeia áreas potenciais para construção de barragens subterrâneas em Alagoas
Estudo liderado pela Embrapa no âmbito do projeto ZonBarragem, mapeou mais de 12 mil Km² do Agreste e do Sertão de Alagoas para indicar áreas potenciais para a construção de barragens subterrâneas, tecnologia social que permite o estoque de água no solo por longos períodos após as chuvas. O Mapa Generalizado de Áreas Potenciais para Construção de Barragens Subterrãneas irá subsidiar um programa estadual a ser iniciado em 2020 que construirá 50 barragens subterrâneas no Semiárido alagoano, beneficiando cerca de 200 famílias.
O mapeamento abrange 28 municípios e foi elaborado tomando como base o Zoneamento Agroecológico de Alagoas (ZAAL). As informações ajudarão os governos estadual e municipais de Alagoas no planejamento da ocupação dos ambientes mais adequados para construção de barragens subterrâneas de forma integrada com a aptidão das terras.
A partir de uma análise multicritério, com o cruzamento dos parâmetros solo, clima, relevo e geologia, o estudo delimitou três classes de potencial dos ambientes – alta, média e baixa – para a locação e implantação de barragens subterrãneas no Semiárido de Alagoas especializadas, dando origem ao mapa de potencial edafoclimático para construção de barragens subterrâneas.
Mapeamento com participação de agricultores
“Com o objetivo de aferir as informações do mapa produzido, em cada classe de potencial delimitada foram efetuadas expedições de validações a campo, por microrregião, a partir de uma rede sociotécnica, com a participação de agentes de desenvolvimento e agricultores locais”, conta a pesquisadora da Embrapa Solos maria Sônia da Silva, líder do projeto Zonbarragens.
A cientista explica que o estado de Alagoas, com uma área de aproximadamente 28.000 km², apresenta variações ambientais significativas em termos de solo, geologia, clima, vegetação e recursos hídricos, o que produz espaços com diferentes potencialidades para exploração agrossilvipastoril e alto risco de degradação ambiental. ” O conhecimento dessas variáveis é vital quando se pretende implantar estratégias de desenvolvimento rural assentadas em bases sustentáveis. A utilização de ferramentas de gestão territorial, a exemplo do zoneamento edafoclimático, como método para auxílio de tomadas de decisões, vem crescendo no Brasil, principalmente com o objetivo de recomendar ações de uso e manejo do solo adequados aos diferentes cultivos”, informa.
Entre os destaques desse trabalho está o seu pionerismo, conforme relata o pesquisador da Embrapa Solos André Julio do Amaral: “Alagoas será o primeiro estado do Semiárido brasileiro a realizar esse zoneamento, o que o tornará referência no uso e manejo adequado dessa tecnologia, bem como base para estudos em outros estados na região Nordeste em ambientes de clima semiárido”.
Mais produtividade no Semiárido
De acordo com a cientista, a segurança que o mapa produzido pelo projeto ZonBarragenm trará na seleção de locais aptos à construção de barragens subterrâneas irá viabilizar sistemas agrícolas mais produtivos, fazendo com que as unidade agrícolas resistam significamente às intempéries climáticas do Semiárido. “A indicação de ambientes potenciais para seleção de locais ideais para construção de barragens subterrâneas, agrupando áreas relativamente homogêneas, a partir de indicadores de geologia, solo, vegetação, relevo e clima, é necesária a de suma importãncia como subsídio a políticas públicas.
Outro importante suporte para a estruturação do programa estadual foi a experiência do programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), desenvolvido pela rede ASA Brasil, que já construiu mais de 80 barragens subterrâneas em Alagoas. Muitas delas, inclusive, foram utilizadas no processo de validação do mapa construído pelo ZonBarragem. O representante da ASA Brasil no estado, Albani Rocha, salienta que o mapeamento será fundamental para que mais famílias do Semiárido alagoano sejam beneficiadas pela tecnologia social.
Além do ZonBarragem e da experiência do programa P1+2, o programa estadual tem como suporte um projeto-piloto desenvolvido pelo Serviço nacional de Aprendizagem Rural (Senar/Alagoas), em parceria com o Serviço nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Alagoas (Sebrae), no município de São José da Tapera.
“Foi a partir dessa experiência e do Zonbarragem que decidimos mobilizar diversas instituições e contamos com o apoio da deputada estadual Fátima Canuto, que promoveu uma audiência pública para discutir a criação desse programa, capitaneado pelo estado”, relembra o presidente da federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (Faeal), Álvaro Almeida.
Como funciona as barragens subterrâneas
A barragem subterrânea deve ser instalada em locais situados em ponto estratégico do terreno, onde escorre o maior volume de água no momento da chuva. Sua construção é feita escavando-se uma vala perpendicular ao sentido da descida das águas até a profundidade da camara mais endurecida so solo. Dentro da vala, estende-se um plástico com espessura de 200 micra por toda a extensão da parede que, em geral, varia de 80 a 100 metros de comprimento.
Após, o plástico estendido, a vala volta a ser fechada com terra. Nessa “parede”, deve ser feito um sangradouro com 50 a 70 centímetros de altura. O plástico impermeável barra o escorrimento de água da chuva e provoca a sua infiltração no solo, o que reduz a evaporação. Dessa forma, cria-se uma vazante artificial na qual a umidade do solo se prolonga por um bom tempo, chegando até quase ao final do período seco no Semiárido.
“A barragem subterrânea é uma tecnologia social hídrica de estoque de água para convivência com o Semiárido que tem tirado muitas famílias da linha da pobreza, gerando alimentos e dignidade para o povo da região”, destaca o coordenador estadual da rede Asa Brasil, Julio César Dias.
Fonte: Embrapa
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