Adubos orgânicos ajudam a controlar verminoses em caprinos e ovinos
Doença responsável por 25% das perdas econômicas na produção de caprinos e ovinos, a verminose é causa de mortalidade de animais e aumenta os custos de produção com medicamentos para vermifugação. Pesquisas da Embrapa estão em busca de uma alternativa de produto que possa ser usado como adubo orgânico nematicida, ou seja: provocar redução da contaminação de parasitas como o Haemonchus contornus nas pastagens e ainda favorecer o desenvolvimento do pasto.
A procura por bioinsumos para o controle da verminose nos caprinos e ovinos é motivada para reduzir o uso indiscriminatório dos vermífugos químicos, que tem provocado surgimento de resistência dos parasitas e risco de contaminação aos produtos de origem animal e ao meio ambiente por resíduos da medicação. Como 95% da população parasitária está fora do organismo dos animais, no chamado ciclo de vida livre no solo e nas pastasgens (na forma de ovos ou larvas), a estratégia de um produto aplicado ao solo para controle no pasto, sem danos ao ambiente, pode representar uma alternativa promissora em relação às estratégias de vermifugação.
Testes com resíduos agroindustriais foram realizados em diferentes etapas, com análise em laboratório (in vitro) e em avaliação com a forragem no solo, em casa de vegetação, onde é possível simular condições ambientais. A torta de mamona, resíduo da agroindústria de extração de óleo daquele vegetal, foi selecionada por possuir maior quantidade de nitrogênio por grama de amostra – pré-requisito para um bom adubo de forrageiras -, além de se apresentar in vitrocomo um bom nematicida. Diante dos bons resultados ela foi levada para uso no campo com animais sob pastejo. Com a utilização da torta a um rebanho que pastejava em área não tratada.
Segundo a médica veterinária Hévila Salles, pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), a estratégia de um adubo com propriedades nematicidas pode favorecer um sistema de controle de verminose em diferentes vertentes: “Aumenta a biomassa vegetal diluindo-se a quantidade de larvas na vegetação: melhora a qualidade das pastagens em termos de teor proteico, o que repercutirá em melhor aporte nutricional para os animais, melhorando sua imunidade: pelo potencial efeito nematicida sobre os estágios de vida livre”, afirma.
De acordo com a cientista, que nos últimos anos tem coordenado projetos de pesquisa para gerar alternativas biotecnológicas para produção de insumos, há vantagem no uso de produtos naturais em relação aos medicamentos sisntéticos por serem, geralmente, de menor toxicidade e mais facilmente degradáveis no meio ambiente.
“De maneira geral, as pesquisas têm buscado reduzir o uso de produtos sintéticos na pecuária objetivando avanços em diversos aspectos. E um deles é a redução da presença de resíduos de medicamentos nos produtos de origem animal a serem consumidos pelo homem, como a carne, o leite e seus derivados. Essa redução, além de contribuir para obtenção de alimentos mais seguros, também auxilia para melhor qualidade e preservação do meio ambiente, uma vez que os resíduos gerados são lançados no solo via fezes e urina dos animais tratados, podendo, por exemplo, levar à contaminação de águas subterrâneas. Assim, alternativas de controle da verminose que venham a reduzir o uso de vermífugos são bem-vindas, e o uso de produtos naturais é mais um delas que deve ser incorporada na estratégia de controle integrado de verminose”, ressalta.
Após os testes, subprodutos da mamona, moringa e também de abacaxi entrarão em período de experimentos em campo em propriedades rurais, que deverão acontecer no período de 2021 e 2022. Essa última etapa de desenvolvimento de um adubo orgânico nematicida foi selecionada, em setembro, entre as 28 vencedoras, no Ceará, do Programa Centelha, destinado a estimular a criação de empreendimentos inovadores – e receberá recursos de R$ 80 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep, via Fundação Cearence de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
Bioquímica no controle da verminose
Outro experimento foi conduzido com moringa, para verificação de propriedades nematicidas. Em uma descoberta pioneira, foram identificadas moléculas responsáveis pela atividade ovicida (capaz de eliminar ovos de parasitas) naquela espécie, o que pode contribuir com futuros medicamentos bioativos contra a verminose.
“Uma maneira de avaliar mais profundamente a qualidade das matérias – primas a serem utilizadas no desenvolvimento de bioinsumos é conhecer as moléculas responsáveis pela atividade desejada. No caso da moringa, conseguimos avanças na identificação de peptídeos ativos, responsáveis pela atividade ovicida da moringa”, informa a bióloga Márjory Souza, que conduziu o experimento na Embrapa Caprinos e Ovinos, como atividade de seu doutorado em biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio). “Assim, identificar essas moléculas permitiu também a seleção de ensaios de atividade mais especifícadas para o monitoramento da qualidade do processo de produção dos bioinsumos”, explica ela.
Para Hévila Salles, as pesquisas para identificação de moléculas naturais têm ótimo potencial para soluções tecnológicas que dificultem a resistência dos parasitas aos medicamentos anti-helmínticos, é que os sintéticos apresentam composição complexa e geralmente há mais de um princípio ativo envolvido com as propriedades observadas, o que dificulta o processo de seleção para resistência. Há também a possibilidade de associação de moléculas naturais a produtos sintéticos, melhorando a eficiéncia das drogas existentes no mercado o que pode representar o uso de doses maenores de vermífugos”, explica a pesquisadora.
Outro potencial da identificação de moléculas com atividade anti-helmítica, de acordo com a cientista, é o desenvolvimento de dietas bioativas, nas quais essas moléculas estariam presentes nos alimentos, que poderiam então ser indicados nas épocas do ano mais desafiadoras para a verminose, compondo uma estratégia nutricional para o controle da doença nos rebanhos.
Controle integrado de verminose
A estratégia de uso de bioinsumos no solo para controle da verminose no pasto, chamada Econemat, poderá se somar a outras recomendações necessárias para minimizar a doença, que abragem cuidados com as instalações, nutrição animal, avalização dos aminais para aplicação adequada dos vermífugos. O chamado controle integrado da verminose é recomendado pela Embrapa para os rebanhos de caprinos e ovidos. Um detalhamento desse controle pode ser visto no portal Paratec, desenvolvido pela Embrapa, com apoio de instituições parceiras, para orientar produtores sobre os cuidados referentes a parasitoses nos rebanhos.
Fonte: Embrapa
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